segunda-feira, 13 de julho de 2015

Experimentando as Profundezas de Jesus Cristo Através da Oração



Por: Madame Guyon
13/07/2015

CAPÍTULO 12: ORAÇÃO CONTÍNUA

Se você permanecer fiel nas coisas que consideramos até aqui, ficará espantado ao sentir que, gradualmente, o Senhor irá tomando conta de todo o seu ser. Quero lembrar-lhe que este livro não foi escrito para agradar-lhe, tampouco apresenta algum método de oração. O propósito dele é oferecer um meio pelo qual o Senhor Jesus possa tomar plena posse de você.
À medida que o Senhor, gradualmente, começar a fazer isso - tomar plena posse de você -, você começará, é verdade, a desfrutar de um senso de Sua presença.
Você perceberá que esta consciência da presença do Se­nhor se tornará muito natural para você. Tanto a oração com a qual você deu início a este processo como a consciência da Sua presença que surge com essa oração se tornarão, no correr do tempo, uma parte normal de sua experiência diária. Uma serenidade incomum e uma plenitude de paz, gradualmente, esparramarão sobre sua alma. Toda sua oração e toda sua experiência começarão a penetrar num novo nível.
O que é este novo nível? É oração que consiste de silêncio. E, durante este silêncio, Deus derrama dentro de você um amor profundo e íntimo. Esta experiência de amor é tal que encherá e permeará todo seu ser. Não há maneira de descrever esta experiência, este encontro. Eu somente diria que este amor que o Senhor derrama nas profundezas é o começo de uma beatitude indescritível.
Gostaria que fosse possível falar-lhe, neste pequeno livro, de alguns dos níveis de experiência sem fim que você pode ter com o Senhor, experiências que brotam deste encontro com Deus. Mas devo lembrar-me de que este livrinho é escrito para iniciantes. Portanto confio que num dia futuro poderei relatar-­lhe estas experiências mais profundas[1].
Há uma coisa, no entanto, que direi. Quando você vai ao Senhor, aprenda, pouco a pouco, a ter uma mente tranquila diante Dele. Uma das coisas mais importantes que você po­derá fazer é cessar de fazer esforço próprio. Deste modo, Deus mesmo pode agir completamente por Si só. Foi o salmista, falando do Senhor, quem disse: "Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus" (SI 46.10). Este versículo lhe dá um retrato de sua própria mente. O seu próprio "eu" se torna tão agradavelmente aderido aos seus próprios esforços, que não consegue crer que qualquer coisa esteja acontecendo dentro de seu espírito. A menos que a mente possa sentir ou compreender, ela se recusa a crer que o espírito esteja experimentando alguma coisa.
A razão pela qual, às vezes, você fica incapaz de sentir a operação de Deus dentro de você é que essa operação está completamente confinada à área do espírito, e não da mente. Algumas vezes as operações de Deus em você são muito rá­pidas e a mente, contudo, nem mesmo tomou consciência de que você está fazendo algum processo. As operações de Deus em você, sempre crescendo mais e mais, estão absorvendo as operações do eu. Deixe-me ilustrar isto.
Durante as noites, as estrelas brilham radiosamente, mas quando o sol começa a se levantar, elas desaparecem gradu­almente. De fato, as estrelas continuam lá, e não pararam de brilhar, mas o sol é muito mais radioso, de modo que você não as pode ver. O mesmo é verdadeiro em coisas espirituais. Há uma luz forte e universal, que absorve todas as luzes menores de sua alma. As luzes menores de sua alma começam a se desvanecer e irão desaparecendo sob a poderosa luz de Seu Espírito. A atividade do eu não pode mais ser distinguida ou notada. O esforço próprio é absorvido na operação de Deus.
Às vezes se levanta uma pergunta: "Tal experiência de oração não é uma inatividade?". A pergunta nem seria feita se fosse precedida pela experiência. Se você fizer algum esforço para ter essa experiência de oração mais profunda com Jesus Cristo, ficará cheio de luz e entendimento a respeito do estado de sua alma. Não, a alma não está inativa - pelo menos não por causa de esterilidade ou carência -, mas tornou-se quieta por causa de grande abundância.
O cristão que está seguro deste encontro entenderá isso e reconhecerá que esse silêncio é rico, pleno e vivo! Esse silêncio advém de um armazém de plenitude!
Veja: há dois tipos de pessoa que se calam. O primeiro é aquele que nada tem a dizer, e o outro é aquele que tem demasiado para dizer. No caso deste encontro mais profun­do com o Senhor, o segundo é que está certo. O silêncio é produzido pelo excesso, não pela falta. Morrer de sede é uma coisa; morrer afogado é bem outra. Mas ambos são causados pela água. Num caso é falta de água; no outro, é o excesso que causa a morte.
Esta experiência com Cristo tem seu começo num modo simples de orar. Gradualmente, contudo, vai crescendo. A ex­periência se aprofunda até que a plenitude da graça silencia completamente a atividade do eu. Portanto, você vê por que é da maior importância que você permaneça tão quieto quanto possível.
Posso ilustrar isso novamente? Quando um nenê nasce, extrai leite do seio de sua mãe, com o movimento dos lábios. Entretanto, quando o leite começa a fluir, a criança simples­mente engole-o sem qualquer outro esforço. Se o nenê con­tinuasse a se esforçar, prejudicar-se-ia, derramando o leite e tendo que parar de mamar.
Esta deve ser sua atitude na oração. Você deve agir do mesmo modo, especialmente no início. Beba sempre suavemen­te. Mas quando o Senhor fluir de seu espírito para sua alma, cesse toda a atividade.
Como começar? Movendo os lábios, agitando as afeições de seu amor pelo Senhor. Logo que o leite do divino amor fluir livremente, silencie - nada faça. Pelo contrário, de modo simples e docemente, tome desta graça e deste amor. Como vê, o senso da presença do Senhor lhe foi dado, pelo Senhor, para encantar você em uma repousante experiência de amor. Nem é preciso dizer que Sua presença não lhe tem sido dada para agitar a atividade do eu.
Retornemos à ilustração do nenê a mamar. Digamos que o nenê bebeu docemente do leite e o fez absolutamente sem esforço. Que acontece, então? Você tem que admitir que todos nós achamos muito difícil crer que recebemos nutri­ção de um modo tão passivo, como um nenê a recebe. E, todavia, olhe para o nenê: quanto mais pacificamente ele mama, melhor se alimenta. Assim, perguntarei novamente: que acontece com o nenê depois que mama? Dorme, no seio de sua mãe.
É isso o que acontece com sua alma. Quando o cristão se torna calmo e quieto, em oração, frequentemente mergulha numa espécie de sono místico ou, para pô-lo de outro modo, os poderes de sua alma ficam em completo descanso.
É aqui, neste ponto, que você começa a ser introduzido a um nível ainda mais profundo de experiência. O cristão começa agora a tocar em uma experiência de completo descanso diante do Senhor. A mente está em descanso; a alma está em descanso; todo o ser chegou a uma calma suave, quieta e tranquila diante do Senhor. Nada o perturba. Primeiramente você experimen­tará isso ocasionalmente; mas, com o tempo, sua alma experi­mentará frequentemente este estado de descanso.
Esteja seguro disto: sua alma será conduzida a esta expe­riência sem esforço, sem dificuldade e sem aptidões especiais. E tudo que você precisa fazer é continuar com o Senhor a cada dia, esperando que Ele aprofunde sua experiência com Ele mesmo.
Vejamos mais de perto o que agora foi dito. A vida inte­rior, isto é, a vida íntima do espírito, não é algo que se toma tempestuosamente ou com violência. Este reino interior, esta esfera de vida dentro de você, é um lugar de paz. Só pode ser ganha pelo amor.
Se você simplesmente seguir pelo caminho que lhe indi­quei até agora, será conduzido a esse quieto lugar de descanso. E, além desse descanso, jaz uma outra experiência - a experi­ência da oração contínua.
Quando falamos de oração contínua, falamos de uma ora­ção que brota de dentro. Origina-se interiormente e opera fora, enchendo e permeando todo seu ser. Isso não é uma questão difícil. Realmente, Deus nada exige de extraordinário. Pelo contrário, Ele fica muito contente com uma conduta simples, como a de uma criancinha.
De fato eu colocaria as coisas desta forma: as mais elevadas realizações espirituais realmente são aquelas mais facilmente al­cançadas. As coisas mais importantes são as menos difíceis.
Isto também pode ser ilustrado pela natureza. Digamos que você deseja chegar ao mar. Como o fará? Nada precisa fazer, exceto isto: chegar ao rio. Eventualmente você será levado ao mar, sem qualquer problema, sem qualquer esforço próprio para achá-lo.
Você gostaria de penetrar em Deus? Retorne, então, aos primeiros pensamentos que apresentamos no início deste li­vrinho. Siga este doce e simples caminho. Continue nele. No devido tempo você chegará ao objetivo desejado. Você chegará a Deus e com uma rapidez nunca imaginada.
Então, o que está faltando? Nada! Você precisa apenas fazer o esforço da tentativa. Se fizer este esforço inicial, verifi­cará que o que afirmei é ainda muito pouco para expressar a descoberta que virá mais à frente. Sua própria experiência com Jesus Cristo levá-lo-á infinitamente além deste nível.
Que há para temer? Querido filho de Deus, por que você não se lança imediatamente nos braços do Amor? A única razão pela qual Ele estendeu Seus braços na cruz foi para que pudesse abraçá-lo. Diga-me: que possível risco você corre por abandonar-se completamente a Ele? O Senhor não o desapon­tará (isto é, a menos que deseje conferir-lhe maior abundância do que você jamais imaginou).
Entretanto, aqueles que esperam todas estas coisas do Senhor através do esforço próprio ouvirão a repreensão do Senhor: "Na tua longa viagem te cansas, mas não dizes: É em vão" (Is 57.10).


[1] Consultar sua autobiografia.

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